terça-feira, 26 de abril de 2011

Um "conto de fadas" contemporâneo

A mídia (e consequentemente as pessoas) aguardam ansiosamente o casamento do Príncipe Willian, da Inglaterra, com Kate Middleton. Sobre o acontecimento, banal para a maioria dos “mortais”, formou-se uma novela. É válido contar aos “espectadores” desde o passado das personagens, até a ficha criminal de seus parentes.

O que foi escrito no texto da reportagem de capa da Revista Época na edição do dia 18 de abril “Quem das mulheres não quis ser Cinderela? Qual menino não sonhou em ser Rei Arthur?”, resume o raciocínio, e mexe com o imaginário das pessoas, estimulando o caráter comercial, já que vende para todos os públicos.

A Revista reservou nada menos que 20 páginas para contar, nos mínimos detalhes, a pomposa cerimônia, além de frívolas curiosidades sobre o Príncipe Willian e Kate Middleton. Todavia, a revista de maneira surpreendente, justificou a necessidade de publicar tais informações, como se dissesse ao público: “Estamos publicando e fazendo render informações tão supérfluas, pois a futilidade vende, e se não o fizermos, vocês buscarão nas páginas de nossos concorrentes”.

Assuntos de suma importância recentemente, como e tragédia no Japão, ou a chacina em Realengo, foram deixados em segundo e terceiro planos, e substituídos tão rapidamente, apagando também da memória das pessoas o que não é agendado pela mídia.

O interesse público não tem lugar no atual contexto, e o que vale agora não é a venda indiscriminada de armas num país aonde isso é proibido, ou a possível construção de usinas eólicas no Brasil. É mais interessante escrever sobre o que o povo quer ouvir, e não sobre o que precisa ouvir.
Bárbara Andrade




 

quarta-feira, 13 de abril de 2011

Os nomes de Realengo

     Karine Chagas de Oliveira, 14 anos. Rafael Pereira da Silva, 14 anos. Milena dos Santos Nascimento, 14 anos. Mariana Rocha de Souza, 12 anos. Larissa dos Santos Atanásio, 13 anos. Bianca Rocha Tavares, 13 anos. Luiza Paula de Silveira, 14 anos. Laryssa Silva Martins, 13 anos. A mídia contradisse seu cálculo exato, estatístico, quando identificou o nome e o tempo das doze crianças assassinadas em uma escola da zona oeste do Rio de Janeiro.
     A cidade de Realengo, local onde o ex-aluno Wellington Menezes de Oliveira voltou para disparar contra dezenas de estudantes suas armas, fez com que o 4° poder da sociedade – a Mídia – decidisse que a tragédia do Japão ou os confrontos entre árabes e israelenses perdessem categoria na hierarquização midiática.
     Todos os veículos informativos do país retomam, dia após dia, o acontecimento de 7 de abril. Não parece haver empecilho algum ao entrevistar e expor as crianças sobreviventes ou os familiares que perderam as suas. O objetivo é informar?
     A cobertura insistentemente progressiva cumpre apenas ao critério de anunciação – a promessa de novos detalhes sobre o caso - para que fidelidade da audiência seja preservada.
     Talvez isso nos faça pensar que a atenção dada às crianças ou aos criminosos do nosso país só parta de uma tragédia de repercussão internacional. Para que Realengo seja esquecida (não acho que deva), basta que a mídia selecione os fatos e hierarquize nossa atenção novamente, de acordo com os valores que elege como ideais. E as crianças voltam a ser número: 12 mortos. 


Gracy Laport.

quarta-feira, 6 de abril de 2011

TROCO MULHER POR SÍTIO

No dia em que se espera o julgamento do pedido de habeas corpus feito pelo advogado do goleiro Bruno, ex titular do Flamengo, a cobertura do caso de provável homicídio pela mídia é de uma displicência preocupante.

Há registros, no mínimo contraditórios, como o do portal Pernambuco.com: ao mesmo tempo em que relata que Bruno vive depressivo na cadeia, comenta as regalias que o ex goleiro recebe, frutos de sucessivas artimanhas judiciais. E mais: Logo em seguida, interpreta tais regalias como um direito do encarcerado. Ainda cita opiniões contrárias de Cláudio Dalledone, advogado do goleiro e do pai de Elisa Samudio, Luiz Carlos Samudio.

Numa tentativa desesperada de manter a imparcialidade, o portal consegue apenas afirmar sua falta de criterio jornalistico, já que mescla a própria opinião ao “Ctrl C – Ctrl V” do Jornal Estado de Minas - edição de 03 de abril.

Mas o que se vê na internet nesta quarta-feira 06 de abril nao trata apenas do suposto homicídio: oportunamente no dia de hoje, o advogado Francisco Simim, responsável pelo patrimônio de Bruno, volta as atenções para a venda do sítio onde Elisa teria sido vista pela última vez. E alega: “não estou vendendo um cativeiro, estou vendendo um espaço de lazer”. Assim, consegue fazer com que sites como O Globo, Eband, Diario de Canoas e Tosabendo.com - este ultimo no clássico estilo sensacionalista – falem quase exclusivamente do trâmite imobiliário.

Uma coisa fica clara: como a sociedade brasileira, de raízes extremamente machistas, consegue trocar a vida de uma mulher por um sitio na cidade de Esmeraldas, região metropolitana de Belo Horizonte.

Aos interessados, a propriedade de 5 mil metros quadrados e 400 metros de área construída esta’ avaliada em 1,2 milhao, mas sai pela bagatela de 800 mil reais.




Suellen Amorim.